Você tem o sonho de realizar um intercâmbio, entra em contato com diversas agencias, pesquisa as escolas, decide por uma agencia, efetua o pagamento, embarca direto para o seu sonho e de repente, tudo começa a ruir. A agência de intercâmbio BFA é a responsável por deixar muitos brasileiros em apuros na Irlanda. Confiram a reportagem do G1.
Clientes e funcionários da Viagens Intercâmbio BFA afirmam que a empresa
faliu e deixou centenas de pessoas sem qualquer informação e os
trabalhadores sem pagamento. O problema afeta tanto clientes que ainda
estão no Brasil e viajariam para o exterior quanto brasileiros que já
estão fora do país, especialmente em Dublin, na Irlanda, onde a agência tinha forte atuação.
Danniel Oliveira, de 27 anos, diretor comercial da BFA até a véspera (5), confirma a informação que o G1
recebeu de vários internautas. Segundo ele, a empresa fechou as portas
na quinta-feira e demitiu os últimos 29 funcionários que ainda
trabalhavam diretamente na empresa em Dublin. A BFA chegou a ter mais de
100 funcionários atuando só na Irlanda.
"A bola de neve é gigantesca. Todos os nossos fornecedores estão
atrasados: escola, seguro, etc. Liguei para o dono da empresa e ele só
pediu desculpa. Disse: ‘Por favor, fecha a loja, não tem o que ser
feito. A BFA não tem dinheiro para pagar as escolas, os fornecedores, os
alunos que já pagaram’. Caiu no meu colo um problema sem dimensão”,
disse em entrevista por telefone ao G1.
De acordo com Oliveira, 410 alunos foram prejudicados. O preço médio
por pacote era de € 2,2 mil. Mas o ex-diretor comercial garante que
alguns antigos funcionários da empresa estão empenhados em ajudar essas
pessoas. “Relacionei por escola todos os nossos clientes, quais são as
escolas, entrei em contato com os responsáveis por todas as escolas –
para informar que a BFA quebrou – e pedi reunião para que possamos
ajudar os clientes. Dos 410 alunos, consigo beneficiar 238 alunos de
alguma forma”, garante.
Segundo ele, os mais prejudicados serão os que pagaram o pacote
completo. Quem pagou pela acomodação, por exemplo, perdeu o valor
integral, segundo Oliveira. Quem chegar à Irlanda até o próximo domingo
(8) ainda será acolhido, mas depois dessa data, não haverá mais como
acomodar ninguém.
Oliveira garante, porém, que não é verdade que as pessoas que já estão
nas acomodações, que chegaram esta semana a Dublin, seriam despejadas.
“Hoje, temos seis apartamentos. Em dois deles os alunos poderão até
ficar até o dia 26 de setembro em um e até 1º de outubro em outro. Os
outros, a responsável ofereceu algumas possibilidades, como a de os
alunos alugarem o imóvel por conta própria.”
Apesar de não receber salário há oito semanas, Oliveira diz que ficará
em Dublin “até conseguir resolver todos os problemas”. Ele garante que
todos os clientes – do Brasil e de Dublin – vão receber uma satisfação e
deixa o e-mail plantao@brasilforall.com.br à disposição dos
interessados.
“Vamos ligar para todos os clientes a partir do momento que tivermos
resposta da escola do estudante. Mas nós trabalhamos com mais de 30
escolas, então, não será imediato. Mas é importante que eles saibam que
têm pessoas trabalhando para uma solução”, informa. “Sei que é muito
difícil tranquilizar essas pessoas, porque estão na emoção, mas tem boas
pessoas aqui trabalhando para que aconteça o melhor. Nós não queremos o
dinheiro de ninguém, queremos ajudar essas pessoas a realizar o sonho,
que no momento virou um pesadelo.”
Danniel Oliveira chegou a Dublin há quatro anos. Ele viajou como intercambista da BFA.
Prejudicados
Renata Bissoli Basso, de 27 anos, está em Dublin desde outubro do ano
passado. Ela foi para o país pela BFA, para fazer intercâmbio, mas
acabou recebendo uma oferta para trabalhar na empresa. Desde janeiro,
ela trabalhava na limpeza das moradias de estudantes.
Na quinta-feira (5), Renata trabalhou normalmente e deixou a empresa às
14h (horário de Dublin). Mais tarde, recebeu um telefonema de uma colega
dizendo que a empresa havia falido.
"No fim da tarde anunciaram que iriam fechar porque não tinham condições
de pagar nenhum funcionário, nem os clientes, nem as escolas e nenhuma
conta futura”, disse em entrevista por telefone ao G1.
Ela afirma que, ao receber a notícia, entrou imediatamente em contato
com o dono da empresa pelo Facebook. “Ele estava online no Facebook, mas
assim que mandei a mensagem, ele saiu do chat. Agora ele cancelou a
conta dele no Facebook”, diz Renata. “Foi um total ato de covardia.”
Segundo ela, o dono da BFA moravam em Dublin, mas há cerca de três meses
se mudou para a Espanha.
Ela e outros brasileiros que estão em Dublin dizem que a informação de
que a empresa fecharia as portas ocorreu apenas verbalmente. A não foi
decretada oficialmente.
Renata diz ainda que não recebia pagamento há mais de um mês. Apesar
disso, ela e o diretor comercial, Danniel Oliveira, passaram a madrugada
de ontem indo às moradias informar quais alunos estavam com os cursos
quitados. “Fui passar o nome dos que estão com a escola paga e parecia
lista de sobreviventes. Está um caos total aqui.”
Marcela Malevicz trabalhava com Renata na BFA, mas pediu demissão há
duas semanas, por falta de pagamento. “Quando eu entrei, era uma
maravilha, a empresa pagava tudo certinho. A partir de julho, as coisas
começaram a ficar complicadas.”
Segundo ela, os problemas começaram em julho, mas muitos atribuíram o
fato à alta temporada. “Acreditamos que o problema seria temporário, a
gente deduzia que era relacionado à alta temporada. Foi ficando nisso e o
tempo foi passando. (...) De repente, ficou ruim – mas daí ficou ruim
de uma vez.”
Diante da situação, Marcela procurou outro emprego e segue trabalhando em Dublin.
Contratos virtuais
A mineira Carolina Martinelli está em Dublin há um mês e meio. Ela só
não enfrentou os problemas que afetam outros brasileiros porque a escola
em que está só aceita que o aluno inicie o curso quando o pagamento
está totalmente quitado. Ela deixou a acomodação da BFA para o
estudantes há apenas 15 dias.
"Para mim, não teve nenhum reflexo porque a Griffith não pode começar se o
curso não está quitado, mas está tendo reflexo para as pessoas que
estão chegando. Quem ainda não começou o curso está descobrindo que
pagou para a BFA mas ela não pagou a escola.”
Carolina contratou os serviços da BFA todos pela internet, assim como os demais clientes ouvidos pelo G1. “Quando
comecei a pesquisar agências, existem alguns sites que falam das
melhores empresas de intercâmbio e qual indicariam. Vi a BFA em quatro
sites. Entrei em contato, fui muito bem atendida, mas tudo aconteceu
virtualmente. Tive medo de fechar o contrato, por não ter uma empresa
física, mas depois me pareceu muito tranquilo”, diz.
Paulo George Pessoa ainda está no Brasil e contratou um pacote de R$
7.600 com a BFA. Ele pagou 50% deste valor na assinatura do contrato e
mais cinco – de dez parcelas – de R$ 500. Ele faz faculdade de
Administração no período da manhã e é funcionário da prefeitura de
Recife, onde trabalha durante a madrugada. Para conseguir o dinheiro da
viagem, conseguiu um estágio no período da tarde. “Estudo de manhã, faço
estágio à tarde e trabalho à noite para juntar o dinheiro”, lamenta.
Paulo também fechou o contrato via internet. Um amigo dele foi para
Dublin pela BFA e passou a trabalhar na empresa como contato comercial.
“Fechei o contrato com esse meu amigo. Me senti mais seguro por causa
disso”, diz.
Segundo o estudante de administração, seu amigo teve um prejuízo de mais de € 3 mil por falta de pagamento da BFA.
Bruno Vinícius dos Santos de Sousa, de Salvador, já pagou R$ 3.330 para a
BFA, também num contrato feito virtualmente. Ele diz que acabou ficando
amigo da vendedora – que foi quem o avisou ontem que havia sido
demitida, pois a empresa tinha falido.
Todos os entrevistados afirmam que os brasileiros que chegaram a Dublin
esta semana e que ainda estavam hospedados nas acomodações da BFA foram
informados que deveriam deixar o imóvel nesta sexta-feira – informação
rebatida por Danniel Oliveira.
"Avisaram isso ontem, mas ninguém apareceu hoje nos imóveis. As pessoas
que precisam fazer check out amanhã não sabem nem para quem deixar a
chave. Também deveriam pegar € 100 euros que foram depositados como
caução, mas não devem receber”, diz Carolina Martinelli.
BFA
A BFA informa em seu site que tem sede em Dublin. O G1
tentou contato durante toda a manhã pelo telefone que aparece na página
da empresa, mas ninguém atendeu. O chat também não estava disponível.
A reportagem também ligou nos telefones das agências da BFA em Dublin,
São Paulo, Curitiba (PR) e Vitória (ES), mas não conseguiu falar com
nenhum sócio da agência.
A Viagens Intercâmbio BFA aparece na Junta Comercial do Estado de Minas
Gerais como sendo uma empresa brasileira, com sede em Aimorés. O CNPJ da
empresa consta como ativo.
O site da empresa não traz qualquer informação sobre o fim das atividades, nem a página da empresa no Facebook ou do Twitter.
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